Blog que queria ser outra coisa, mas que se contenta em deixar trans-pirar a sua dona... Moda, literatura, cinema e efêmeras frivolidades em geral.

20
Fev 09

Como diriam as fashionistas de plantão, há um perfume gaucho que continua no ar...

Desde Roberto Cavalli, na coleção outono/inverno 2007/2008, com seus ponchos, chapéus, botas, bombachas meio jadhpour, muito luxo do gaúcho; já havia uma utilização glamourosa dessa indumentária hoje tão ligada, no Rio Grande do Sul, a algo que não é, de maneira alguma, ser gaúcho: o Movimento Tradicionalista.

A Maison Dior, ainda am 2007, também lançou uma linha de marroquinerie  com o label Gaucho (algo que os franceses deviam pronunciar goochô), com bolsas em forma de sela, estribos como fivelas, botas, enfim, toda uma sorte de elementos bem emblemáticos.

E se a revista Vogue - edição brasileira - de janeiro de 2008 só conseguiu ver nas franjas o estilo cowboy americano, problema deles, que estão precisando conhecer uma cultura bem mais próxima mas muito mais distante do mundinho fashion.

Na seqüência, SPFW inverno 2009, com Tufi Duek, que eu já havia mencionado. Patti Smith de trilha, Horses e mais horses, noites brilhantes do sul: uma plêiade de estrelas nas passarelas, ostentando ombros só em ponchos ressemantizados. Bombachas da luxo com paetês negros e cintos novamente lembrando as velhas guaiacas platinas. Tudo com muita elegância, nada a dever a uma suposta guasquidão a que o gaúcho do RS remete. É gaúcho bem comercial lido pela lente paulista, mas isso não é pra ser crítica - a coleção é linda e coleção é sempre leitura e releitura de alguma coisa - nem que seja a tradução do próprio estilista a algo que ele idea-lizou.

Quando tudo parecia já adormecido e eu já havia montado o programa de um curso sobre moda com o tal perfume - O pampa na passarela - eis que a antenadíssima Ana Carolina Acom, corpomenteespírito do modamanifesto.com me vem com imagens recém saídas do forno da semana de NY, com a coleção de Tommy Hilfiger: botas, chapéus, semi-ponchos, cintos com os tais estribos...

Lá vem o gaúcho de novo, com tudo.

Além de Borges com seus orilleros, de Güiraldes com suas sombras, de Barbosa Lessa com seus guaxos, de Cyro Martins com seus peatones, de Aldyr Schlee com um sul que ainda existe dentro de nós e na sua escrita perfeita - aí chega toda essa parafernália em torno de um conceito. E o que temos agora, já que Caringi, Jungbluth, Blanes, Vasco Prado, Xico Stockinger e outros nossos já nos retrataram de todas as maneiras mais ou menos lidas e relidas?

O que nos toca? Onde chegamos? Qual o horizonte sem fim das planícies sureñas?

Para onde foi o nosso andarilho?

Cetegistas que não me leiam, mas fomos parar na passarela e na mente de almas que compõem com pedaços de tecidos histórias que nos contam as roupas.

E hoje a história que me contaram me trouxe de volta prum mundo telúrico com cheiro de terra e gosto de mate, ainda que eu tenha de tomá-lo cavalgando no Central Park para depois apear e tomar um café no Starbucks e à noite assistir a mim mesma numa passarela mundialmente televisionada no umbigo do mundo.

Fundamentalismos - que nada - à parte, hoje, uma vez mais, vuelvo al sur, como se vuelve siempre al amor, porque, como diria Don Segundo, iremos com nossa alma por delante, como madriña de tropilla.

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publicado por joanabosak às 17:47
sinto-me: gaucha
música: Bajofondo
tags:

03
Fev 09

É impressionante o que a tal crise faz. Mesmo no mundo super restrito da alta-costura é possível perceber os efeitos dos efeitos da dita globalização.

Lagerfeld talvez nunca tenha bebido tanto da fonte Chanel, que passou a I Guerra no início da sua carreira, quando as garçonnes não eram apenas anoréxicas, elas passavam fome mesmo.

Depois de demitir cerca de 200 funcionários, o desfile da Maison em sua última coleção - 27 de janeiro - apresentada em Paris mostrou o que é possível fazer em termos de transcriação na moda - Haroldo que me perdoe, mas eu não resisto...

O Kaiser pegou tudo, tudinho que já estava lá numa economia não de idéias, mas moral: as cores, branco, preto e virgin-white, um bege quase branco e revisitou cardigans, twin-sets, saias e vestidos no joelho, bem ao gosto de Mademoiselle Coco.  E chapéus, muitos, em todas as modelos, só pra lembrar a origem chapeleira da grife. Apenas tirou as famosas pérolas, que mesmo falsas, estão fora do circuito recessão. Afinal, hoje o desfile da nova coleção, mesmo com todo o seu custo, rende dividendos que muitas vezes as próprias roupas não r(v)endem. A manutenção da casa depende de uma manutenção de sua imagem e a Moda como sistema - já diria Barthes - e que é como ela existe hoje, só sobrevive se se re-nova - me empresta, Rê? Ou seja, moda só existe se passar.

Teorias ultra-tudo à parte, assistir ao vídeo dessa coleção de verão foi como entrar num túnel de um tempo que conjuga um estilo já existente com novos materiais, ou seja, hoje. Até canutilho tinha! Muito anos 20...09!

Eu amei, porque sempre adoro o que aparece na passarela Chanel e porque fico muito impressionada com a homengagem que Lagerfeld presta a cada coleção à criadora da casa de que hoje ele é o senhor. E o mais incrível é o efeito sempre distinto que ele consegue imprimir nas peças ainda que partindo, teoricamente, do mesmo que já foi feito de outra maneira.

Não é à toa que o estilista tomou da folha em branco como inspiração: ela aceita tudo, até o velho, transcriado à imagem e semelhança de qualquer época, crise ou estilo que seja.

Começar de novo é sempre re-começar, como diria ReFratton.

publicado por joanabosak às 10:13
música: Madeleine Peyroux
sinto-me: com sono
tags:

19
Jan 09

Se os museus fossem, como quer a definição grega, o lugar das musas, hoje faço a homenagem a duas musas que acabo de assistir da tela que não via e que agora se faz indispensável - em tempos de Fashion Weeks.

Minhas "musas" de hoje são: Ronaldo Fraga, estilista mineiro, que colocou velhos - não vou falar "idosos" - e crianças na passarela brincando e rindo com as pelancas e as ancas das pessoas comuns, que embora não possam vestir suas roupas sempre, nos fazem lembrar que a moda antes de ser Moda é indumento, como diria Daniela Calanca, autora do excelente História Social da Moda, recém-saído pela editora Senac SP - e o paulista Tufi Duek, da Forum.

Ronaldo é o artista-artesão da moda brasileira, que sempre conta histórias e estórias independentemente de tendências. Brinca com tecidos, materiais, formas, gostos e coloca tudo no bom-humor que ele sempre apresenta revestido por mãos hábeis de artesãs muitas vezes ribeirinhas do Velho Chico.

Mas hoje, o meu amor declarado vai pro Tufi Duek, da Forum, que mexeu fundo comigo e trouxe o gaúcho pra cena da moda contemporânea brasileira como eu ainda não havia visto. Uma coleção de tirar o fôlego, a mais linda que vi nos últimos tempos, inspirada, usável e chique pra mais de metro - como guaxa-gaúcha, não consigo me conter...

Amei ver ponchos de ombro só reconstruídos e bombachas tão pouco prováveis. No meio de peças óbvias desconstruídas e relidas, peças ainda mais surpeendentes, elegantes e algo entre o moderno e o totalmente clássico. Tufi, hoje, nasceu clássico.

Nunca vi tanto luxo do gaúcho!!!

E eu ficando cada vez mais fashion, de alguma maneira imponderável e quase impossível.

Esta não foi a educação que a senhora me deu, dona Helga!

Ainda bem!

publicado por joanabosak às 23:14
sinto-me: esperançosa
música: Helena
tags:

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